A literatura tem passado por transformações significativas com o advento das tecnologias digitais. A popularização de e-books, podcasts literários, audiolivros e outras plataformas digitais está redefinindo a forma como consumimos e produzimos conteúdo literário. Essas inovações não apenas ampliaram o acesso à literatura, mas também diversificaram os formatos e meios pelos quais as histórias são contadas, compartilhadas e reinterpretadas.
Ao longo da história, cineastas, escritores e editores pioneiros desempenharam um papel essencial na adaptação das narrativas à evolução tecnológica. No século XX, o rádio e a televisão já haviam transformado a experiência literária, mas foi a digitalização que reconfigurou completamente o mercado editorial. O Projeto Gutenberg (1971) marcou o início da era dos livros digitais, enquanto o lançamento do Kindle (2007) revolucionou a acessibilidade da leitura, tornando os e-books uma alternativa prática e portátil ao impresso. Paralelamente, o crescimento dos audiolivros e podcasts abriu caminho para novas formas de contar histórias, misturando literatura e oralidade em uma experiência multimídia.
Este artigo tem como objetivo explorar como essas plataformas digitais estão moldando o novo cenário literário, analisando suas origens, impactos e perspectivas futuras. Como a literatura tem se adaptado às novas mídias? De que maneira os leitores e escritores interagem com essas inovações? Com essas perguntas em mente, investigaremos como os e-books, os audiolivros e os podcasts literários não apenas transformam o acesso à literatura, mas também ampliam o papel da narrativa no mundo digital.
2. A Revolução Digital na Literatura
2.1 Histórico da Transição do Impresso para o Digital
A transição da literatura do formato impresso para o digital iniciou-se com projetos pioneiros como o Projeto Gutenberg, fundado em 1971 por Michael Hart, com o objetivo de digitalizar e disponibilizar gratuitamente grandes obras literárias. Esse marco histórico marcou o início da disseminação da literatura digital, abrindo caminho para novas formas de leitura.
Nas décadas seguintes, o avanço da internet e o desenvolvimento de dispositivos de leitura aceleraram a adoção dos e-books. O Kindle, lançado pela Amazon em 2007, tornou-se um divisor de águas, pois facilitou o acesso a milhares de títulos com apenas alguns cliques, consolidando os e-books como parte fundamental da indústria editorial.
Paralelamente, o consumo de literatura oral ganhou força com a popularização dos audiolivros e dos podcasts literários. A ascensão de plataformas como Audible, Storytel e Scribd, aliada ao crescimento dos smartphones e assistentes de voz, fez com que o hábito da leitura se expandisse para novos formatos, permitindo que os usuários escutassem livros e discussões literárias enquanto realizam outras atividades.
Segundo um relatório da Associação de Editores Americanos (AAP), as vendas de audiolivros cresceram mais de 25% nos últimos anos, enquanto o mercado de e-books, que teve um crescimento acelerado na década de 2010, agora se mantém estável e consolidado. Esses números demonstram a mudança no comportamento do consumidor, que busca flexibilidade e acessibilidade na experiência literária.
2.2 Impacto das Tecnologias Digitais na Produção e Distribuição de Conteúdo Literário
As tecnologias digitais revolucionaram não apenas a leitura, mas também a produção e distribuição de conteúdo literário. Hoje, autores independentes podem publicar diretamente em plataformas digitais, eliminando a necessidade de intermediários tradicionais e alcançando um público global. Empresas como Amazon Kindle Direct Publishing (KDP), Wattpad e Google Play Livros permitem que escritores publiquem suas obras de forma rápida e acessível, o que democratiza a literatura, mas também aumenta a concorrência e os desafios de visibilidade.
Além da facilidade de publicação, a digitalização reduziu os custos de produção e distribuição, tornando os livros mais acessíveis. Plataformas de assinatura, como Kindle Unlimited e Storytel, oferecem catálogos extensos de e-books e audiolivros, permitindo que os leitores descubram novos autores e gêneros com facilidade.
Entretanto, essa democratização apresenta desafios. Questões como direitos autorais, pirataria e remuneração dos escritores ainda são obstáculos enfrentados no meio digital. Além disso, a personalização do consumo literário por meio de algoritmos pode gerar um efeito de “bolha”, restringindo a diversidade das leituras e limitando o contato com obras fora do padrão de recomendação automática.
Segundo uma pesquisa da PwC Global Entertainment & Media Outlook, o mercado global de livros digitais e audiolivros crescerá significativamente até 2025, consolidando o impacto das tecnologias digitais na literatura. Com isso, autores, editoras e plataformas precisam encontrar formas de equilibrar inovação e sustentabilidade econômica, garantindo que a literatura digital continue sendo acessível e viável para todos os envolvidos.
Em suma, a revolução digital na literatura não apenas transformou os formatos e meios de distribuição, mas também redefiniu a relação entre autores, leitores e o mercado editorial, criando um ecossistema mais dinâmico, acessível e desafiador.
3. E-books: A Transformação do Livro Tradicional
3.1 Vantagens e Desafios dos Livros Eletrônicos
Os e-books revolucionaram a forma como consumimos literatura, oferecendo uma série de vantagens em relação aos livros impressos. A praticidade é uma das principais, pois um único dispositivo, como um tablet ou e-reader, permite armazenar milhares de livros, facilitando o acesso a diversas obras em qualquer lugar. Além disso, os e-books proporcionam acesso global, permitindo que leitores de diferentes partes do mundo obtenham o mesmo conteúdo instantaneamente, sem os custos de impressão e logística associados aos livros físicos.
Outro benefício relevante é a sustentabilidade. De acordo com um estudo da Cleantech Group, a produção de e-books reduz significativamente o consumo de papel, tinta e transporte, minimizando o impacto ambiental da indústria editorial. Embora o impacto ecológico de dispositivos eletrônicos também seja uma preocupação, muitos e-readers modernos possuem baterias de longa duração e componentes recicláveis, reduzindo o desperdício.
Entretanto, os e-books enfrentam desafios significativos. Questões como direitos autorais e pirataria preocupam autores e editoras, já que a distribuição digital facilita a reprodução ilegal de conteúdo. Além disso, a adaptação de leitores tradicionais ao formato digital pode ser lenta, pois muitos ainda valorizam a experiência sensorial do livro impresso. Problemas de compatibilidade entre diferentes dispositivos e plataformas também afetam a experiência do usuário, tornando necessário o uso de formatos universais, como EPUB e MOBI.
De acordo com a Statista, o mercado global de e-books deve atingir US$ 15 bilhões até 2027, impulsionado pela crescente adoção de plataformas digitais e pela demanda por livros acessíveis e interativos.
3.2 Plataformas e Dispositivos Populares para Leitura Digital
O mercado de leitura digital oferece diversas plataformas e dispositivos, atendendo às diferentes preferências dos leitores. Entre os e-readers mais populares, destacam-se:
- Kindle Paperwhite (2024) – Reconhecido por sua tela maior, iluminação ajustável e bateria de longa duração, sendo um dos preferidos entre os leitores ávidos.
- Boox Palma 2 – Oferece integração com aplicativos Android, proporcionando uma experiência de leitura versátil e personalizada.
- Kobo Libra Colour – Ideal para quadrinhos e livros ilustrados, graças à sua tela colorida e opções avançadas de personalização.
Além dos dispositivos dedicados, aplicativos de leitura para smartphones e tablets, como Kindle, Google Play Books e Apple Books, ampliam ainda mais o acesso à leitura digital, permitindo a sincronização da biblioteca entre dispositivos e funcionalidades como leitura em voz alta e anotações integradas.
No Brasil, plataformas como Ubook e Skeelo têm se consolidado como alternativas nacionais para leitura digital e audiolivros, oferecendo acesso a catálogos variados de literatura, revistas e conteúdos educativos.
3.3 Tendências Atuais e Futuras no Mercado de E-books
O mercado de e-books continua a evoluir, com tendências que apontam para maior integração entre plataformas e suporte a livrarias independentes. A Bookshop.org, por exemplo, expandiu recentemente seus serviços para incluir e-books, fortalecendo sua missão de apoiar livrarias locais e oferecer uma alternativa aos grandes varejistas online.
Outra tendência crescente é a diversificação dos dispositivos de leitura, com e-readers oferecendo telas coloridas, anotações inteligentes e suporte a inteligência artificial (IA). A IA, por sua vez, está sendo utilizada para personalizar a experiência de leitura, sugerindo livros com base em preferências do usuário e adaptando o formato do texto para necessidades específicas, como acessibilidade para leitores com deficiência visual.
De acordo com um relatório da PwC Global Entertainment & Media Outlook, o mercado global de livros digitais crescerá significativamente até 2025, impulsionado pela inovação tecnológica e pela expansão do consumo digital em mercados emergentes.
4. Podcasts Literários: A Voz da Narrativa Moderna
4.1 Crescimento dos Podcasts como Meio de Disseminação Literária
Nos últimos anos, os podcasts emergiram como uma plataforma poderosa para a disseminação de conteúdo literário. Sua popularidade pode ser atribuída à facilidade de acesso e ao consumo multitarefa, permitindo que os ouvintes explorem temas literários durante atividades cotidianas, como dirigir, praticar exercícios ou realizar tarefas domésticas.
De acordo com um estudo da Edison Research, 41% dos ouvintes de podcasts nos EUA consomem pelo menos um episódio mensalmente de podcasts relacionados a livros e literatura. Esse crescimento se reflete na ampliação da oferta de conteúdos literários em áudio, incluindo entrevistas com escritores, leituras dramatizadas e discussões críticas sobre obras clássicas e contemporâneas.
4.2 Principais Formatos: Entrevistas, Leituras Dramatizadas e Discussões Literárias
Os podcasts literários adotam diversos formatos para engajar seu público. Entre os mais comuns estão:
- Entrevistas – Conversas aprofundadas com autores, editores e profissionais do mercado editorial, oferecendo insights sobre processos criativos e tendências literárias.
- Leituras Dramatizadas – Apresentações de obras literárias com interpretação vocal e efeitos sonoros, proporcionando uma experiência imersiva ao ouvinte.
- Discussões Literárias – Debates e análises sobre livros, gêneros e movimentos literários, muitas vezes com participação do público.
Além desses formatos, alguns podcasts experimentam narrativas híbridas, misturando documentário, ficção e storytelling, criando novas formas de interação com a literatura.
4.3 Exemplos de Podcasts Influentes no Cenário Literário
Diversos podcasts têm se destacado por sua contribuição ao universo literário. Alguns exemplos incluem:
- Página Cinco – Apresentado pelo jornalista Rodrigo Casarin, aborda temas literários variados, incluindo entrevistas e debates sobre lançamentos e clássicos da literatura.
- Põe na Estante – Criado pela jornalista Gabriela Mayer, promove discussões sobre obras de ficção e não ficção, incentivando a reflexão e o diálogo entre os ouvintes.
- 30:MIN – Um dos podcasts literários mais antigos do Brasil, conhecido por seu tom informal e humorístico, abordando uma ampla gama de temas relacionados à literatura.
No cenário internacional, podcasts como “The New Yorker: Fiction” e “The Guardian Books Podcast” também desempenham um papel essencial na promoção da literatura, trazendo leituras de contos e discussões sobre o mercado editorial global.
Além do impacto cultural, os podcasts literários têm influenciado o mercado editorial, impulsionando a venda de livros e ampliando o engajamento dos leitores com autores e editoras. Muitas editoras já utilizam podcasts como ferramenta de marketing, promovendo novas publicações por meio de entrevistas e trechos narrados.
5. Audiolivros: A Literatura para Ouvir
5.1 Expansão do Mercado de Audiolivros e Mudanças nos Hábitos de Consumo
Nos últimos anos, o mercado de audiolivros tem experimentado um crescimento acelerado, refletindo mudanças significativas nos hábitos de consumo de literatura digital. Segundo a Câmara Brasileira do Livro (CBL), os livros digitais, incluindo e-books e audiolivros, registraram um aumento de 15% no Brasil entre 2021 e 2022.
Globalmente, o mercado de audiolivros foi avaliado em US$ 14,85 bilhões em 2023, com projeções de atingir US$ 119 bilhões até 2032, crescendo a uma taxa anual composta de 26,01%, de acordo com a Grand View Research.
Esse crescimento se deve, em grande parte, à conveniência que os audiolivros oferecem, permitindo que leitores “ouçam” livros durante atividades cotidianas, como deslocamentos, treinos ou afazeres domésticos. Além disso, a chegada de plataformas dedicadas, como a Audible da Amazon, que desembarcou no Brasil em outubro de 2023, ampliou significativamente o acesso a títulos em português, disponibilizando mais de 100 mil audiolivros, dos quais 4 mil são narrados em português.
Outro fator importante é o uso crescente da inteligência artificial (IA) na narração de audiolivros. Algumas plataformas já oferecem narradores gerados por IA, que conseguem imitar nuances vocais humanas com alta fidelidade. Isso torna a produção de audiolivros mais acessível, reduzindo custos e permitindo que mais autores independentes publiquem suas obras em áudio. No entanto, essa tecnologia também gera debates sobre a substituição de narradores profissionais e o impacto na experiência do ouvinte.
5.2 Benefícios dos Audiolivros para a Acessibilidade e Inclusão
Os audiolivros desempenham um papel fundamental na promoção da acessibilidade e inclusão no universo literário. Para pessoas com deficiência visual, dislexia ou dificuldades de leitura, os audiolivros oferecem uma alternativa viável e acessível, eliminando barreiras associadas ao formato tradicional.
Projetos como DAISY (Digital Accessible Information System) têm trabalhado para disponibilizar audiolivros acessíveis para pessoas com deficiência visual. Além disso, plataformas como Librivox e Livox oferecem conteúdos gratuitos, promovendo a inclusão digital no acesso à literatura.
Além da acessibilidade, os audiolivros também beneficiam pessoas com rotinas agitadas, permitindo a imersão na literatura de forma prática e adaptável ao dia a dia. Isso amplia o público consumidor e contribui para a diversificação dos formatos literários disponíveis no mercado.
5.3 Plataformas e Serviços de Destaque no Fornecimento de Audiolivros
Diversas plataformas se destacam no mercado de audiolivros, atendendo a uma demanda crescente por conteúdo literário em áudio. Algumas das principais são:
- Audible (Amazon) – Possui um dos maiores catálogos do mundo, com mais de 100 mil audiolivros, incluindo títulos exclusivos e best-sellers.
- Storytel – Forte presença no mercado internacional, com um modelo de assinatura ilimitado que permite acesso a milhares de audiolivros e e-books.
- Ubook – Plataforma brasileira que oferece audiolivros, podcasts e revistas, sendo uma das mais populares no Brasil.
- Skeelo – Conhecido por parcerias com operadoras de telefonia, oferece audiolivros em um modelo de assinatura integrado a serviços de telefonia móvel.
- Tocalivros – Destaca-se pelo apoio a autores independentes, permitindo que novos escritores publiquem audiolivros com mais facilidade.
Com o aumento da concorrência no setor, essas plataformas têm investido em curadoria de conteúdo, personalização por algoritmos e novos recursos interativos, aprimorando a experiência do usuário e expandindo ainda mais o mercado de audiolivros.
6. Plataformas de Streaming e a Democratização da Leitura
6.1 Serviços de Assinatura que Oferecem Acesso Ilimitado a Conteúdos Literários
As plataformas de streaming de livros revolucionaram o acesso à literatura ao oferecer serviços de assinatura, permitindo que usuários leiam ou ouçam uma variedade ilimitada de títulos por uma taxa fixa mensal.
O Kindle Unlimited, da Amazon, é um dos exemplos mais notáveis, oferecendo milhares de e-books e audiolivros para seus assinantes. O Skeelo, seguindo esse modelo, lançou recentemente um serviço de acesso ilimitado, ampliando as opções para os leitores digitais.
Esse modelo democratiza a leitura ao permitir que os usuários explorem diferentes gêneros e autores sem precisar adquirir cada título individualmente. Além disso, muitas dessas plataformas oferecem períodos gratuitos de teste, incentivando novos leitores a aderirem ao formato digital.
6.2 Como Essas Plataformas Estão Mudando a Relação entre Leitores e Autores
A ascensão das plataformas de streaming literário tem transformado a relação entre leitores e autores. Para os leitores, essas plataformas oferecem conveniência, acessibilidade e diversidade, permitindo o acesso instantâneo a uma ampla gama de obras.
Para os autores, especialmente os independentes, essas plataformas proporcionam uma nova via de distribuição, ampliando o alcance de suas obras e possibilitando a construção de uma base de leitores mais ampla.
No entanto, surgem debates sobre a remuneração justa dos autores. O modelo de assinatura muitas vezes resulta em royalties mais baixos por unidade consumida, o que exige um equilíbrio entre acessibilidade para os leitores e sustentabilidade financeira para os escritores. Algumas plataformas, como a Storytel, adotaram modelos de pagamento baseados no tempo de leitura para tentar tornar a distribuição de royalties mais justa.
6.3 Impacto na Diversidade de Gêneros e na Descoberta de Novos Talentos
As plataformas de streaming têm desempenhado um papel essencial na promoção da diversidade literária e na descoberta de novos talentos.
Ao oferecer catálogos extensos e variados, essas plataformas permitem que os leitores explorem gêneros menos convencionais, como fantasia, romance LGBTQ+, literatura afrofuturista e obras independentes.
Além disso, algoritmos de recomendação personalizados ajudam leitores a encontrar obras alinhadas a seus interesses, enquanto fornecem aos autores uma oportunidade de alcançar públicos específicos, fomentando uma comunidade literária mais inclusiva e dinâmica.
Exemplos de autores que ganharam notoriedade por meio dessas plataformas incluem:
- Anna Todd, autora da série After, que começou publicando no Wattpad antes de se tornar um best-seller global.
- Beth Reekles, autora de A Barraca do Beijo, que também teve sucesso inicial no Wattpad antes de ter sua obra adaptada para a Netflix.
- Colleen Hoover, que viu sua popularidade crescer graças às recomendações baseadas em algoritmos de plataformas digitais, tornando-se um fenômeno no TikTok e em serviços de assinatura.
Esses exemplos mostram como as plataformas de streaming não apenas facilitam o acesso à literatura, mas também impulsionam a descoberta de novos talentos, criando um cenário mais democrático e acessível para autores e leitores.
7. Desafios e Oportunidades na Era da Literatura Digital
7.1 Questões de Direitos Autorais e Pirataria no Ambiente Digital
A transição da literatura para o formato digital trouxe desafios significativos relacionados aos direitos autorais e à pirataria. A facilidade de reprodução e distribuição de obras digitais resultou no aumento da pirataria, afetando negativamente autores e editoras.
Segundo um relatório da International Publishers Association (IPA), o mercado editorial perde anualmente cerca de US$ 300 milhões devido à pirataria de e-books e audiolivros. No Brasil, uma pesquisa da Câmara Brasileira do Livro (CBL) apontou que mais de 30% dos leitores já consumiram livros digitais de forma ilegal.
Plataformas ilegais e grupos em redes sociais frequentemente compartilham e-books sem autorização, comprometendo a sustentabilidade da indústria editorial. Para combater essa prática, diversas editoras adotam medidas de proteção como DRM (Digital Rights Management), que restringe a cópia e o compartilhamento não autorizado de arquivos digitais. Além disso, empresas como Amazon e Google trabalham na remoção de conteúdos piratas e promovem campanhas de conscientização sobre os impactos da pirataria na remuneração dos autores.
No entanto, equilibrar proteção e acessibilidade continua sendo um desafio. Enquanto os direitos autorais precisam ser resguardados, políticas de preço acessíveis e modelos de assinatura, como Kindle Unlimited e Storytel, têm se mostrado eficazes para reduzir a pirataria, ao oferecer acesso legal a vastos catálogos por um custo fixo.
7.2 Adaptação de Autores e Editoras às Novas Demandas Tecnológicas
Autores e editoras enfrentam o desafio de se adaptar às inovações tecnológicas que moldam o mercado literário. A digitalização exige conhecimento de novas ferramentas de publicação e distribuição, além de estratégias de marketing digital para alcançar leitores.
Editoras tradicionais, como HarperCollins e Companhia das Letras, têm investido em audiolivros, livros interativos e campanhas digitais, enquanto autores independentes como Colleen Hoover e Andy Weir construíram suas carreiras publicando em plataformas online como Kindle Direct Publishing (KDP) e Wattpad antes de atingirem o mercado tradicional.
A resistência à mudança pode resultar em perda de competitividade, enquanto a adaptação proativa abre novas oportunidades de engajamento com os leitores. Algumas editoras e autores já exploram inteligência artificial para personalizar recomendações, criar capas de livros e até otimizar processos de escrita. O projeto Sudowrite, por exemplo, auxilia escritores gerando sugestões de diálogos e trechos narrativos com base em IA.
Esse novo cenário exige flexibilidade, inovação e um olhar estratégico sobre as tendências do mercado digital, garantindo que a literatura continue evoluindo com as mudanças tecnológicas.
7.3 O Papel das Redes Sociais na Promoção e Crítica Literária
As redes sociais emergiram como ferramentas essenciais na promoção e discussão de obras literárias. Plataformas como Instagram, YouTube e TikTok impulsionaram o mercado editorial ao criar comunidades ativas e engajadas.
Um dos fenômenos mais notáveis é o BookTok, no TikTok, que tem influenciado diretamente as vendas de livros. Segundo um relatório da NPD BookScan, livros promovidos no BookTok tiveram um crescimento de 60% nas vendas nos EUA em 2022. Autores como Colleen Hoover (É Assim Que Acaba) e Taylor Jenkins Reid (Os Sete Maridos de Evelyn Hugo) se tornaram best-sellers após viralizarem na plataforma.
Além disso, editoras e livrarias passaram a investir em campanhas digitais focadas em influenciadores literários, aumentando a conexão entre autores e leitores. No entanto, a dinâmica acelerada das redes sociais também pode levar à superficialidade nas análises e à priorização de obras comerciais em detrimento de livros mais complexos e experimentais.
Por isso, é essencial equilibrar a promoção literária com discussões críticas mais aprofundadas, garantindo um espaço democrático para a literatura dentro do ambiente digital.
8. O Futuro da Literatura na Era Digital
8.1 Inovações Tecnológicas Emergentes e Suas Possíveis Influências na Literatura
O avanço tecnológico promete transformar ainda mais o cenário literário, trazendo novas possibilidades para a criação, consumo e distribuição de livros.
A inteligência artificial generativa já influencia a produção literária, com programas como ChatGPT e Sudowrite auxiliando escritores na composição de textos. Enquanto algumas iniciativas buscam automatizar a escrita, outras exploram a coautoria entre humanos e máquinas, levantando debates sobre originalidade e criatividade na literatura digital.
Além disso, a realidade virtual (VR) e aumentada (AR) estão começando a impactar a experiência de leitura. Experimentos em narrativas imersivas, como livros interativos em VR e audiolivros 3D, permitem que os leitores vivenciem histórias de forma inédita, tornando a literatura mais sensorial e participativa.
Essas tecnologias emergentes podem expandir os limites da narrativa tradicional, criando novos gêneros e formas de expressão literária que antes eram inimagináveis.
8.2 A Convergência entre Diferentes Mídias e Formatos Narrativos
A era digital tem facilitado a convergência entre mídias, resultando em formatos híbridos que combinam texto, áudio, vídeo e interatividade.
Histórias agora podem ser contadas de maneira multimodal, ampliando o universo literário. Séries de livros como “The Witcher” e “Percy Jackson” se expandiram para videogames, séries de TV e podcasts, criando universos narrativos expansivos e atingindo públicos diversos.
Além disso, a literatura tem sido integrada a experiências transmidiais, como o projeto “The Sandman”, que além dos quadrinhos e do livro, gerou um podcast narrado e uma série na Netflix, reforçando a interação entre diferentes formatos.
Essa tendência permite que autores explorem novas formas de contar histórias e leitores engajem com conteúdos de maneiras inéditas, tornando a literatura mais acessível e interativa.
8.3 Reflexões sobre o Papel do Leitor e do Autor no Cenário Digital em Constante Evolução
Com o crescimento das plataformas digitais, as fronteiras entre autor e leitor se tornaram mais fluidas.
Plataformas de autopublicação, redes sociais e fóruns de leitores permitem que fãs se tornem criadores, compartilhando suas próprias histórias e até co-criando narrativas. No Wattpad, por exemplo, autores desconhecidos podem se tornar best-sellers, como ocorreu com Anna Todd, autora da série “After”, e Beth Reekles, de “A Barraca do Beijo”.
Além disso, a interação direta entre autores e público possibilita colaborações e feedbacks em tempo real, enriquecendo o processo criativo. O conceito de “narrativa aberta”, onde leitores influenciam a trama por meio de enquetes ou interações online, vem ganhando força, promovendo um modelo mais inclusivo e colaborativo de produção literária.
Essa dinâmica redefine os papéis tradicionais, transformando a literatura em um espaço mais democrático, interativo e dinâmico, onde a criação e a apreciação das histórias são processos compartilhados.